No Dia Nacional de Combate ao Racismo e Intolerância Religiosa, Orum Aiyê Quilombo Cultural estreia em Brasília o espetáculo “Conto de Cativeiros”
Foto por Raquel Rocha |
Trazendo a negritude das margens para o centro das discussões culturais, o coletivo de resistência Orum Aiyê Quilombo Cultural estreia no Espaço Cultural Renato Russo nos dias 21 e 22 de janeiro às 20 horas. O espetáculo “Conto de Cativeiros” é um solo encenado pelo artista Marcelo Marques e dirigido por Renata Caetano. Trata-se de uma composição circense afro-diaspórica, com referenciais nas vivências e estéticas de terreiro, que teve sua estréia no segundo semestre do ano de 2022 em Goiânia. Após temporada de 6 meses com casa cheia, chega o momento do Distrito Federal conhecer a obra.
O espetáculo, que tem a coreografia de Juliana Jardel, cenário e figurino de Raquel Rocha, produção executiva de Luazi Luango é protagonizado, dirigido e coreografado somente por artistas negros. “Estamos em tempos cujo a necessidade de atitudes afirmativas em relação a história e a cultura negra estão cada vez mais pungentes”, comenta o artista Marcelo Marques sobre a urgência de uma produção feita por essa equipe.
Diáspora
O espetáculo tematiza uma história que retrata os caminhos percorridos pelo povo preto brasileiro desde a diáspora africana. Essa história é narrada pelo olhar de um preto velho simpático e de fala doce, trazendo para cada cena um recorte com foco na sabedoria, nas vitórias e expertises trazidas da África para o Brasil. Os contos trazem as alegrias, a resiliência e a fé negra.
A montagem pesquisa a mistura das linguagens corporais, do circo com a dança afro e a capoeira, além de outros elementos da cultura negra preservada juntos aos Povos e Comunidades de Matriz Africana no Brasil, os Povos de Terreiro. “Contos de Cativeiro é por sua essência uma ação regada ao Axé da resistência negra por ter em seu pilar a voz e protagonismo preto entremeado em sua construção e narrativa, trazendo em sumidade a cultura negra que vem sido historicamente perseguida” comenta a diretora de arte e co- fundadora do Orum Aiyê, Raquel Rocha.
O Povo Preto no Centro
Tanto o espetáculo quanto o Orum Aiyê Quilombo Cultural nascem da necessidade de se ter em Goiânia um espaço que enfatizasse o protagonismo negro na produção cultural. O espaço foi fundado por Raquel Rocha, artista visual goiana, e Marcelo Marques, que acumula mais de 30 anos de caminhada de circo.
Raquel Rocha e Marcelo Marques lembram do difícil cenário social, político e econômico, que coloca as pessoas negras em uma situação ainda mais marginal às políticas públicas e no centro de crescentes ataques racistas. A consciência da importância das relações identitárias na formação e na autoestima de jovens e crianças, lembram os produtores, é fundamental. Neste sentido, a existência de produções culturais capazes de afirmar a negritude ajudam na formação dessas pessoas. “É nesta faixa etária em que o jovem consolida sua personalidade e, por isso, as referências que afirmam positivamente seu lugar social são enriquecedores. Diante desse olhar, ter espetáculos culturais protagonizados, produzidos e gestados por pessoas pretas colaboram na afirmação da identidade juvenil num lugar potente”, analisam Marcelo Marques e Raquel Rocha.
O Terreiro em Cena
Relevância da preservação das narrativas afro referenciadas
Mostra-se de grande importância preservar as narrativas míticas, iniciáticas, culturais e de origem dos povos africanos trazidos no processo escravatório, no sentido de compreender as contribuições destes povos na formação do ser brasileiro bem como do Brasil como nação, nas suas identidades e riquezas materiais, espirituais e culturais.
Com a criação em forma de espetáculo cênico, temos a possibilidade de salvaguardar no tempo o pensamento e os referenciais que constituem um determinado povo e e seu legado tradicional afrocentrado, sendo de grande valia, inclusive, como conteúdo didático que pode ser usado nos currículos escolares e como referências acadêmicas.
Ficha Técnica: direção geral : Renata Caetano | direção de coreografia : Juliana Jardel | texto e atuação: Marcelo Marques | cenário e figurino: Raquel Rocha | produção executiva: Luazi Luango | técnico em iluminação: Matheus Trindade | realização: Orum Aiyê Quilombo Cultural
Serviço:
Share this content:
Publicar comentário